A Câmara Municipal de Rio dos Cedros (em Santa Catarina, a 186 km de Florianópolis) empossou como vereadora, na noite dessa segunda-feira (22), a doceira Gilmara Elisa Ricardo (PPS), 38, décima suplente da coligação com o PMDB. O curioso é que a nova vereadora não recebeu um único voto em 2012, nem ela votou em si mesma.
A suplente ocupou a vaga de Anilda Moser (PMDB), mais votada daquele pleito com 658 votos, que tirou licença de 30 dias.
"Eu não queria ser eleita, por isto não votei em mim e dei meu voto
para meu marido", disse Gilmara, por telefone, explicando o zero voto. O
marido, Laudenir Barbosa (PPS), também ficou na suplência.
A Câmara da cidade se reúne uma vez por semana, toda segunda-feira. O salário é de R$ 2.000.
Gilmara é presidente do PPS municipal. Nunca tinha disputado eleições
antes. Contou que seu nome estava na chapa da coligação PPS-PMDB apenas
para garantir a cota necessária de mulheres candidatas exigida por lei.
A vereadora Anilda explicou que havia um acordo não escrito entre os
aliados PMDB e PPS de permitir alternância no cargo de vereador entre
titulares e suplentes.
"Eu estava preocupada em ceder meu lugar para Gilmara porque nem ela
votou em si mesma. Mas, como ela foi diplomada pelo TRE [Tribunal
Regional Eleitoral], não há nada de ilegal. Todos os vereadores aqui
cedem um tempo para os suplentes das bancadas assumirem", declarou
Anilda.
A vereadora licenciada diz não entender "o auê que estão
fazendo porque eu me licenciei. Há tanta falcatrua acontecendo na
política nacional e querem olhar para uma mudançazinha em Rio dos
Cedros?"
A diplomação de Gilmara como suplente pelo TER foi
possível porque a votação na coligação PPS/PMDB garantiu cinco vagas de
titulares e 10 como suplentes.
De acordo com a lei um partido ou
coligação tem direito ao número de vereadores resultante da divisão do
número de votos válidos (7.250, no caso de Rio Cedros) pelo número de
vagas na Câmara (9).
Em Rio dos Cedros, cada 806 votos davam
direito a uma vaga. O restante dos votos vai para os suplentes. Como
exemplo, os 11 candidatos do PT (que não estava coligado) somaram apenas
734 votos, abaixo da cota de 806, em consequência nenhum pode assumir.
Gilmara, mesmo com zero, chegou lá.
Prefeito fala em boicote
O prefeito Fernando Tomaselli (PP) foi contra a posse: "Vou orientar
minha bancada [4 dos 9 vereadores] a ir contra qualquer projeto que ela
apresente. Se tem zero voto, estará representando zero cidadãos, o que é
uma coisa estapafúrdia".
Gilmara participou da sessão de
segunda já apresentando um projeto para recuperar uma estrada vicinal.
Tomou gosto pela tribuna e se tornou desafiante: "Nunca fui
politiqueira, mas agora fiquei tão irritada com as críticas dos
adversários que da próxima vez vou concorrer para ganhar uma vaga
direta, não quero mais ser suplente".
Gilmara tem três filhos e
vende doces caseiros entre estudantes da faculdade de Engenharia de
Indaial (30 km de Rio dos Cedros). No Facebook, exibe sua foto de
princesa da 3ª Festa da Linguiça, uma feira regional.