terça-feira, 21 de outubro de 2014

Votos 'voadores' na mira de Dilma e Aécio: indecisos e incertos somam 22 milhões

Na última semana de campanha, Aécio e Dilma correm atrás (e como correm) não apenas dos indecisos, que somam 5% segundo o último Ibope, mas dos quase 22% de seus próprios eleitores que declaram que ainda podem mudar de opção. Dos que dizem votar em Aécio, 14% podem mudar sua opção até domingo, contra 8% daqueles que dizem que são pró-Dilma. No total, indecisos e incertos somam mais de 22 milhões de eleitores – é esse contingente de ‘votos voadores’ que deverá decidir a disputa presidencial mais acirrada desde 1989.
Para onde vão esses votos? Ninguém sabe. Neste contexto, os últimos dias de campanha na TV e, principalmente, o debate da TV Globo na próxima sexta-feira tornam-se decisivos. Até aqui o formato dos debates no segundo turno – Band, SBT e Record – favoreceu mais os candidatos do que o eleitor. Explico: ao transformar o embate em perguntas e respostas diretas, a TV dá aos candidatos a primazia de controlar o programa conforme suas conveniências. Há menos margem para o acaso e improvisação, o que poderia acontecer, por exemplo, se os temas fossem sorteados na hora. Assim, na maior parte do tempo, Dilma e Aécio acabam repetindo no debate as mensagens de seus respectivos horários eleitorais (Pronatec, tolerância zero com inflação, Petrobras, emprego, desemprego etc). Vale a lógica da propaganda: repetir mensagens já testadas e que deram certo e fugir dos pontos desgastantes.
 Interessante notar, porém, que de certa forma quase um quinto do eleitorado nacional se coloca à margem da propalada polarização PT X PSDB. No final, em 2014 será decisivo o eleitor que não se identifica nem com uma candidatura nem com outra. Um eleitor que não valoriza tanto as diferenças já bem firmadas entre os caminhos oferecidos por Dilma e Aécio, que se encontram e se distanciam nos temas econômicos e sociais, mas que preza outros universos de referência para basear suas escolhas. Que olha o candidato como o consumidor que avalia um produto e que necessita de tempo e informação para escolher. Um eleitor que talvez enxergue tanto diferenças como semelhanças entre os candidatos e sopesa o que é melhor para si.
 Quando se diz que o país está dividido ou polarizado entre duas forças políticas, confesso que tenho minhas dúvidas. Na composição do novo Congresso Nacional, por exemplo, PT e PSDB são partidos longe de majoritários – juntos não têm deputados suficientes para aprovar um Projeto de Lei. Nem petistas nem tucanos têm a força política e o respaldo que tiveram FHC em 1994 pós-plano Real e Lula em 2006 com a ascenção social de milhões de brasileiros.
 Dilma ou Aécio assumirão no futuro um país talvez mais fragmentado do que polarizado. Quem sabe não seja isto que os ‘votos voadores’ estão a nos indicar?