sábado, 16 de maio de 2015

O incrível avanço da medicina para salvar o início da vida

Cilene Pereira e Paula Rocha
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A editora de saúde Cilene Pereira conta sobre a capa desta semana
No domingo, 10, dia das mães, a empresária paulistana Aline Scullion, 28 anos, grávida de 17 semanas, decidiu dar um presente diferente para sua mãe, Maria: um ultrassom das gêmeas Luna e Bella. No exame, ela descobriu que as bebês sofriam de síndrome de transfusão intergemelar, quando há a formação de comunicações vasculares anormais entre os fetos. A confirmação do diagnóstico veio na terça-feira, 12. No dia seguinte, Luna e Bella passaram por uma cirurgia intrauterina no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, na qual o laser foi usado para fechar os vasos sanguíneos que as ligavam. Cada uma agora tem sua rede de abastecimento sanguíneo. “Sem essa cirurgia, a saúde delas estaria em risco. Agora sigo tranqüila na gestação, sabendo que elas estão bem”, diz Aline.
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Há alguns anos, em uma situação como a de Luna e Bella, o risco de morte de pelo menos um feto era de 95%. Nesta síndrome, um feto recebe parte do sangue do outro, o que resulta em acúmulo, e o outro acaba ficando com pouco sangue. Hoje, com o diagnóstico precoce e tratamento, essas crianças têm 85% de chance de sobreviver. Em casos de hérnia diafragmática fetal – órgãos abdominais como fígado, estômago e intestino desenvolvem-se na região torácica, pegando o lugar dos pulmões -, o feto tem 50% de possibilidade de sobreviver se tratado a tempo. Antes, sem opção, a chance de vida era menor do que 10%. Em situações graves, próxima do zero. Aqueles que nasciam prematuros (abaixo de 37 semanas) pesando menos de um quilo tinham 50% de chance de viver. Atualmente, quando assistidos do modo correto, 90% deles deixam o hospital, crescem, tornam-se adultos. Esses índices são alguns resultados do formidável avanço da medicina especializada em salvar aqueles que estão bem no começo da vida, ainda dentro do útero ou fora dele antes do tempo certo.
Por trás do salto entre o que era possível oferecer para o que se dispõe atualmente há uma combinação de fatores que inclui o maior conhecimento do desenvolvimento fetal e dos recém-nascidos, a sofisticação dos aparelhos de imagem e o treinamento preciso de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde envolvidos no atendimento. A primeira etapa na qual é possível enxergar a qualidade que isso resultou é a do diagnóstico. “A maior parte dos problemas significativos com o bebê é detectável na fase intrauterina”, afirma Javier Miguelez, assessor médico em medicina fetal do Gestar, do Fleury Medicina e Saúde, de São Paulo. “Com os exames, é possível dar tranquilidade aos pais com relação a malformações graves, como a anencefalia, e a cerca de 90% das cromossomopatias, como a Síndrome de Down”, explica.
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No que se refere às enfermidades causadas por anomalias nos cromossomos (abrigam os genes), os destaques são os exames de sangue para detectar boa parte delas. “A vantagem é fazer a detecção precoce dessas síndromes sem realizar a punção na placenta, que oferece 1% de risco de aborto”, diz Miguelez. “É o melhor método de rastreamento e não coloca a gestação em risco”, diz Fábio Peralta, cirurgião ginecológico e que atua na área de medicina fetal do Hospital e Maternidade São Luiz e no Hospital do Coração (Hcor), em São Paulo.
Em relação às malformações, os grandes aliados são os exames de imagem. “O ultrassom evoluiu muito. As gestantes podem optar se desejam fazer o ultrassom morfológico em 3D ou 4D” diz Márcia da Costa, coordenadora da Maternidade São Luiz, de São Paulo. O ecocardiograma fetal, por sua vez, identifica malformações que afetam o coração